Por que temer o poder de Temer


Por Fabrício Augusto de Oliveira

Da direita para a direita, a Família Temer: André Moura, Moreira Franco, Pai Temer, Mãe Jucá, Tio Renan Calheiros e o mimado filhote Geddel Vieira Lima. Ao fundo, a serviçal Henrique Alves tirando um pó da treta toda.

 

O presidente Temer continua confirmando sua especialidade em arrumar problemas para o seu próprio governo. De seus fiéis escudeiros iniciais restam apenas Eliseu Padilha e Moreira Franco que, no entanto, continuam no radar da Lava Jato e de outras investigações sobre corrupção. Os demais, apeados do poder também por denúncias de corrupção, foram sendo ajeitados em cargos e funções importantes: Romero Jucá, ou o “Caju”, no Senado, como líder do governo, que se juntou a André Moura, outro enrolado, como líder da Câmara dos Deputados; Renan Calheiros, que deu um drible a la Pelé no Supremo Tribunal Federal (STF), como líder do PMDB no senado; Henrique Alves e Geddel Vieira Lima, por enquanto, continuam aguardando, de férias, alguma promoção para seus atos “heroicos” contra a democracia e a população.

Não satisfeito em acomodar os “companheiros” no poder, Temer, ignorando o clamor da sociedade e da opinião pública, continua ampliando suas ações nessa mesma direção: numa decisão inesperada, nomeou como ministro da Secretária-Geral da Presidência da República, Moreira Franco, um dos homens-chave de seu governo, com o objetivo de cobri-lo com o manto do foro privilegiado – ou da impunidade. E, para não deixar dúvidas sobre sua disposição de jogar pesado para proteger-se e proteger membros de seu governo das investigações em curso, acaba de indicar para o STF, provavelmente com a expectativa de que possa contribuir nessa empreitada, o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, amante de refletores e que não demonstrou nenhum pudor ao aceitar a indicação, de negar sua própria tese de doutorado de ser suspeito para essa função quem exerce cargo de confiança para a Presidência, visando evitar demonstração de “gratidão política”.

Não é pouco para um presidente que conta com altíssimos níveis de desaprovação e que reúne apenas pouco mais de 10% de apoio da população ao seu governo e ao seu nome. Antes que isso, é uma prova de que “companheiros” de jornada, independentemente de seus objetivos, não podem ser deixados no meio do caminho e jogados à própria sorte, quando alvejados na luta, mesmo que isso prejudique 200 milhões de habitantes e um país. Uma prova incontestável de fidelidade ao projeto político de manter o mesmo na condição de uma República de Bananas, na qual são os mais espertos e poderosos que desfrutam de suas riquezas, sob o amparo das leis e de um judiciário que raramente condena políticos.

Com a mesma rapidez com que indicou e vem protegendo membros não muito abonáveis de seu governo, Temer não hesitou em lançar para a população, especialmente para a de menor renda, a conta dos desarranjos econômicos do governo Dilma Rousseff. A aprovação da PEC 55, de corte dos gastos públicos primários, tornou-se, para ele e sua equipe econômica, um ponto de honra para atender as demandas do mercado de ampliar o espaço no orçamento para o capital financeiro parasitário, que suga a riqueza do país, ao mesmo tempo que manteve intocadas as regras tributárias e financeiras que protegem os ricos de qualquer ônus. O mesmo se pode dizer a respeito da reforma da previdência social que, ainda em andamento, tem merecido todo o seu empenho.

Quanto à criação de condições mínimas para o país voltar a crescer, o presidente e sua equipe econômica têm se mantido, até o momento, silentes. Apoiados na equivocada crença neoliberal de ser necessário “primeiro ajustar para depois crescer”, nenhuma medida importante foi adotada para destravar os caminhos do crescimento, a não ser ao nível de promessas de um ministro da Fazenda que, íntimo do capital e da riqueza financeira, pouco, ou muito pouco, parece entender de macroeconomia para atuar como formulador de política econômica.

Se na questão política há muito para se temer do governo Temer, cujas decisões vão afugentando as poucas luzes de esperança que se acenderam com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, na economia pode-se também começar a descartar qualquer medida mais audaciosa e corajosa para recolocar o país na rota do crescimento econômico. Afinal, estando às vésperas de um novo ano eleitoral, o presidente, lépido para adotar medidas que prejudiquem o país e a população, dificilmente ousará avançar nas reformas estruturais que contrariem os interesses dos setores poderosos. Por isso, há muito o que temer do governo Temer.

Economia

Fabrício Augusto de Oliveira

Doutor em Economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social e autor, entre outros, do livro ‘Política Econômica, estagnação e crise mundial: Brasil 1980-2010’.