Policial lidera destruição de terreiro
Em Mário Campos, na Grande BH, grupo liderado pelo policial militar aposentado João Camargo invadiu e depredou terreiro de umbanda. Polícia Militar teria presenciado o crime sem intervir.
Por Lucas Simões
Imagens de santos destruídas, fiação elétrica e encanamento arrancados à força, ameaças de morte com revólveres em punho e uma motosserra usada para intimidar religiosos. A cena macabra aconteceu no terreiro de umbanda Casa Espírita Império dos Orixás Nossa Senhora da Conceição e São Jorge Guerreiro, em Mário Campos, na Grande BH, no ataque sofrido na última semana. Esta é a terceira depredação sofrida por terreiros em Minas Gerais em apenas cinco meses (leia aqui sobre os ataques anteriores relatados por O Beltrano https://www.badernanoticias.com/portfolio/ameaca-de-pm-evangelico-mobiliza-terreiros-em-santa-luzia/ e https://www.badernanoticias.com/portfolio/batuque-na-cozinha-sinha-nao-quer/).
As agressões começaram na última terça-feira (24/10), quando cinco homens liderados pelo policial militar reformado João Camargo invadiram o terreiro Casa Espírita Império dos Orixás, instalado em um sítio na divisa entre Mario Campos e São Joaquim de Bicas, há cerca de 44 quilômetros de BH.
Armados com revólveres, picaretas e até uma motosserra, os homens quebraram várias imagens religiosas e destruíram a cozinha da casa, dizendo que não queriam “macumbeiros na cidade”. A Polícia Militar foi acionada pelos umbandistas, mas não interviram. “O mais absurdo é que ninguém foi preso. Eles fizeram o que quiseram, ameaçaram as pessoas na frente da PM e os policiais só pediram calma”, diz Vanderlei Xangô, umbandista que prestou assistência aos religiosos junto ao Centro de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (Cenarab).
No dia seguinte, quarta-feira (25/10) pela manhã, três dos agressores, incluindo um pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, voltaram ao terreiro, mais uma vez armados. “Eles disseram que iriam terminar o serviço e que queriam fazer uma igreja no lugar. Ameaçaram pessoas com armas nas mãos”, completou Vanderlei.
Um dos membros da casa de umbanda arremessou uma pedra contra os agressores. Foi o suficiente para o policial João Camargo acionar a PM, que compareceu ao terreiro e conduziu apenas os umbandistas à delegacia. “Fizeram buscas na casa, revistaram uma mulher grávida de 7 meses, mas não fizeram nada contra os invasores”, disse Vanderlei.
Quando retornaram da delegacia, os umbandistas se depararam com um estrago ainda maior no terreiro. Fios de luz foram cortados e todos os canos de água e esgoto foram quebrados.
Não satisfeitos, outros dois invasores retornaram ao terreiro na tarde desta segunda-feira (30/10) e voltaram a depredar o local, destruindo uma geladeira. Eles foram os únicos detidos pela PM e encaminhados para a 3ª Delegacia de Polícia Civil de São Joaquim de Bicas.
A idealizadora da Casa Espírita Império dos Orixás, uma senhora de 80 anos, passou mal e precisou de atendimento médico em Belo Horizonte. “Estou cuidando dela em casa e não sabemos como será daqui para frente”, desabafou Vanderlei.
Vanderlei Xangô diz que esse é o primeiro caso de violência física sofrido pelo terreiro em oito anos de atividades. Há quase uma década, o espaço também funciona como um centro de apoio para parentes de presidiários que viajam para visitar detentos no Presídio de São Joaquim de Bicas II.
“O terreiro está fechado, inclusive sem receber essas pessoas que chegam toda semana para visitar seus parentes presos. Fora isso, tem o medo, tem a humilhação. Eu tenho um sobrinho no Rio de Janeiro e lá também está ruim para a umbanda e o candomblé. É uma onda de ataques”, completou Vanderlei.
Por meio da assessoria de imprensa, a Polícia Civil informou que ainda investiga o caso. Procurado, o tenente Fidelis, responsável pela Polícia Militar de Mário Campos, não retornou o contato da reportagem para prestar esclarecimentos.
Por meio do assessor de comunicação Maurício Nogueira, a Prefeitura de Mário Campos repudiou os ataques ao terreiro. “Relataram que esse senhor que vem ameaçando já esteve aqui antes. Ele está fincando uns piquetes na propriedade, querendo fazer a todo custo uma igreja evangélica aqui. Estamos registrando tudo”, disse Maurício.