O “Fora Temer” da economia
O legado que o presidente deixará é um país em frangalhos
Por José Antônio Bicalho
O governo que se desmancha nos legará uma economia em frangalhos. Para o presidente da República, Michel Temer, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, todos banqueiros, fica o ônus de terem jogado o país no buraco mais profundo de toda a história econômica brasileira. Sairão do governo de cabeça baixa, melancolicamente. Meirelles, que sonhava com a Presidência em 2018 (acreditem, era esse o plano do capital financeiro, que no final das contas é quem manda no país) não se elegerá mais nem a vereador em Goiás.
Na última semana, antes de explodir o “beefgate”, os jornalões, com a exceção honrosa do Valor Econômico, insistiram na notícia de que a crise terminou. Utilizaram, para tal, o avanço positivo do IBCBr do primeiro trimestre (o indicador do Banco Central que antecede o anúncio do PIB), o primeiro no azul em oito trimestres consecutivos. Mas não é verdade, a crise não terminou. Estamos ainda em recessão e sem qualquer perspectiva de reversão do quadro lastimável, conforme irei demonstrar com números, mais abaixo.
O fato é que Temer não terá a economia para se segurar. Lembrem-se que os impeachments de João Goulart (1964), Fernando Collor (1992) e Dilma Rousseff (2016) se deram em cenário de conjugação de crise econômica e política. Se Temer tivesse conseguido reverter a recessão, talvez conseguisse amealhar algum capital político para tentar continuar no cargo. Mas a gravidade das denúncias, somada à profundidade da crise, não deixa qualquer alternativa ao presidente. Sua saída é inevitável. Particularmente, aposto mais na renúncia do que no impeachment. E gostaria de acreditar também na possibilidade de eleições diretas (leia a matéria de Lucas Simões, aqui em O Beltrano), mas duvido que o parlamento, autor direto do golpe, delegue ao povo o direito de escolha e incorra no risco da eleição de Lula.
Mas, vamos aos números da crise. O IBC-Br, que mede a atividade econômica, cresceu 1,12% no primeiro trimestre em relaçãoaos três meses imediatamente anteriores. É o primeiro crescimento para qualquer trimestre desde o último trimestre de 2014. Foi esse número que levou à enganosa conclusão do fim da crise. O problema é que o índice só foi positivo em função exclusivamente da colheita da safra recorde de grãos no período (expectativa de crescimento de 26%). Todo o restante da economia (indústria, comércio e serviços) ainda está no vermelho. E a economia como um todo muito provavelmente voltará a cair no segundo trimestre com a desaceleração do ritmo da atividade no campo. Já são dois anos e três meses de recessão e ainda não saímos ainda dela.
Diante da crise e da queda na arrecadação, o déficit primário do Governo Central (Previdência, Banco Central e Tesouro Nacional) continua em ritmo de crescimento acelerado. Este foi de R$ 11,7 bilhões em março, o pior para o mês na série histórica do BC iniciada em dezembro de 2001. O resultado primário é diferença entre receitas e despesas, sem considerar gastos com juros.
A projeção dos bancos (relatório Prisma Fiscal, do Ministério da Fazenda) já é de um absurdo déficit do governo central ao final deste ano de R$ 148,1 bilhões, superando a meta de R$ 147 bilhões, que já era risível. Como o governo é obrigado a financiar esse déficit no mercado, a dívida pública explode. Cresceu em março 3,17% (isso em apenas um mês!!!!) para R$ 3,13 trilhões.
Os indicadores da economia e das contas públicas, como se vê, estão despencando. Poderemos parar em algum ponto pela própria inércia da dinâmica recessiva. Mas não teremos força para subir, ou seja, para voltar a apresentar percentuais vigorosos de crescimento. Isso só se dará a partir de uma nova política econômica não recessiva, e que seja o contrário do ajuste fiscal e da política monetária e fiscal contracionista de Temer/Meirelles/Goldfajn.
A saída de Temer, portanto, não é só um caso de imoralidade política e justiça. É também um caso de sobrevivência econômica.