De tomar a mão de cada irmão pela cidade
Por Rafael Mendonça
Era uma canção,
um só cordão
E uma vontade
De tomar a mão
De cada irmão pela cidade
(Chico Buarque)
A gente anda com muita certeza. Certeza de caminhos, certeza de problemas e de soluções. De uns tempos para cá, tenho tentado ter mais e mais dúvidas. Tentar ver a parte cinzenta das coisas, em busca do entendimento. Com tudo isso no coração, parti bem cedo em direção à Pampulha para cobrir o Congresso da UNE, que acontece em BH, no campus da UFMG e no Mineirinho. Tinha minhas impressões e certezas. Minhas preguiças e preconceitos.
Sim, todos temos ideias pré-concebidas e se nos fecharmos nestes círculos eles se tornarão viciosos.
Dito isto, chego lá e vejo hordas e mais hordas de meninas e meninos, todos nas casa dos 20 anos. E todos enormemente cheios de energia. Batuques, palavras de ordem e todo o pacote de militância. E se você precisa de uma aula de diversidade, de todos os tipos de diversidade, não existe lugar melhor do que um congresso da UNE.
É necessário um pequeno porém. Eu não sou formado jornalista. Sou jornalista de formação. Editei revistas, sites, fiz matérias, etc. Mas fui entrar numa faculdade já aos 36 anos. Fiquei três anos e ainda devo um, um e meio. Então, na verdade, ontem foi um processo de desvirginamento.
E lá chegando, o peso da idade falou mais alto, com as entrevistas para fazer e o batuque interminável, pensava comigo: Meu deus, esses meninos não dão uma trégua!
Precisou eu sair de lá, tomar meia dúzia de cervejas com uns amigos e uma sozinho para entender a grandeza e a importância dessa turma. Entender que neste momento do país a gente precisa demais da energia desses meninos e meninas. Não interessa se eles são petistas, psolistas, trotskistas, maoistas, stalinistas ou liberais. Eles estão vivos. E essa força e energia tomam conta dos nossos corações e mentes. E nos libertam de sentimentos envelhecidos e arraigados.
O que era rancor virou esperança. E, assim como Gonzaguinha, eu também acredito na rapaziada. A gente tem que acreditar. A gente tem que ter nesses jovens a centelha de esperança de que é possível.
E é impressionante como cada um daqueles tem todas as soluções em suas cabeças. Por mais que pensem diferente entre si, a turma ali tem uma vontade louca de um país mais justo, mais honesto e melhor. Em todos os sentidos
A Carina Vitral, neste sábado (17), já quase ex-presidente da UNE, me respondeu a uma questão agora a pouco. Ela que deve ter sido a presidente que pegou o período mais danado para estar presidente, mostra uma clareza de raciocínio e sabedoria política de fazer inveja.
“A conjuntura não deixou que tivéssemos grandes conquistas para a educação. O que nos tivemos foi a luta e a resistência. A luta contra a redução da maioridade penal, a resistência ao golpe e a criação das frentes de luta. Ter estado do lado certo da história também considero uma conquista. As ocupações e, nessa reta final, as mobilizações do Fora Temer”, explica Carina sobre seus dois anos à frente da União Nacional do Estudantes.
Por motivos de trabalho, não pude ir a noite à manifestação, nem sabia se iria até quinta à noite e sexta pela manhã. Mas depois de passar pela UFMG, fiquei triste de ter perdido. Depois de ver os vídeos, fiquei feliz de ter sido tão bonito. Pode-se pensar o que quiser do caminho a ser tomado para sairmos desse atoleiro. Mas não se pode negar que essas moças e moços estão na linha de frente de qualquer coisa que seja. Sejamos ingênuos, sejamos jovens. Que sejam vocês os nossos libertadores.
Cultura e Outras Coisas
Rafael Mendonça
Jornalista, editor do site O Beltrano, editor da extinta revista ‘Graffiti 76% quadrinhos’, editor do Baderna Notícias e cuidador da própria vida.