Bienal de Artes de São Paulo ou ver sem ver ou sentir sentindo


Por Rafael Mendonça

Este não é um texto sobre as virtudes estéticas da 32ª Bienal de São Paulo – e a bienal é cheia delas. Aqui você não verá nada disso. Também não verá nada sobre as acaloradas discussões que o evento tem causado por abrir espaço para temas atuais e de forte conteúdo social. 

Não, aqui não.

Fui lá para ver a Bienal, e apenas vi. Com meus olhos de quem não conhece arte o suficiente para escrever sobre. Apenas vi, pois tem coisas (e tem horas) que é bom apenas ver e sentir.

E acredito ser assim que pelo menos 70% do público de uma Bienal vê o trem lá.

Pois bem, para mim a Bienal começou já no ônibus para São Paulo, quando essas duas cenas de estrada me pegaram em cheio, enquanto estava preso em um atraso que me custou quatro horas. Sério, que beleza mais forte do Brasil profundo. Poético. 

Já no Parque Ibirapuera, ao entrar no pavilhão, logo de cara você vi aqueles troncos bonitões do Krajcberg. Esse eu conheço de outros carnavais. Já tive o prazer de trabalhar com ele em uma exposição no Festival de Inverno de 2000 em Diamantina. Após passar pelas coisas dele, parei em frente a uma obra que tinha um bocado de sementes e afins. Era bonito e fazia pensar na natureza e no que a gente faz com ela. Arte pode ser simples. 

Mas também pode ser complexa. Como as belas torres que ficavam ali depois da rampa. Obra que me fez refletir e pensar. Sobre ocas (tem algumas espalhadas pela Bienal), torres, especulação imobiliária e até sobre a nossa própria pequenez perante as coisas. Uma obra grandiosa como as grandes obras devem ser. Na rampa, um projetor fazia um jogo de luzes bem legal. Vi crianças curtindo, pessoas viajando em suas sombras e uma singeleza que sinceramente não pensei em achar ali.

Andando, vi os ursos rosas de pelúcia, tão impressionantes que não sei se gostei ou não. Me incomodou e achei estranho. Acho que arte também serve pra isso. Fica meio parecido com o mundo que um bocado de gente vive, aquela coisa meio rosa demais pro cinza da vida. 

Aí tinham essas paredes com esses desenhos bonitões. Publicaria todos na finada Graffiti 76% quadrinhos. Bonitos mesmo, doidões. Me lembrou uns lances que a ‘Animal’ publicava na década de 90. 

Tinham esses dois desenhos, esses me arrependi de não ver o nome. Isso é bonito demais. Complexidade simples, teor e informação. Achei demais também as pessoas pirando nisso, estudantes de artes ficavam parados na frente por longos períodos de tempo, admirando. E eu também.

 

Essas duas “coisas” me chaparam também, não sei o que é, nem quem é, nem o que quer dizer, nem porque achei bonito, mas achei. E fiquei pensando nas pessoas que vão lá no pavilhão e ficam na mesma reação e sentimento. Saquei nada mas curti.

Entrei em uma reentrância e vi essa terra rachada. Aí deu vontade de falar de todas as coisas sérias que a Bienal mostrava. Deu vontade de xingar quem só quer o ‘venha a nós’ em sua fazenda. Quem não respeita os índios, quem maltrata a natureza. Guardei isso tudo para mim e segui em frente.

Mas aí cheguei nas caixas de som, e seus graves, e suas velas. Me emocionei e resolvi escrever este texto. Desculpem a falta de jeito, mas vou ali no canto dar mais uma choradinha por essa beleza.

Cultura e outras coisas

Rafael Mendonça

Rafael Mendonça é jornalista, editor do site O Beltrano, editor da extinta revista ‘Graffiti 76% quadrinhos’, editor do Baderna Notícias e cuidador da própria vida.