Bastidores do futebol
Por Ivan Drummond
Corria o ano de 2003, dos mais importantes para o futebol mineiro, afinal de contas um clube do Estado conquistaria os dois principais títulos nacionais. O Cruzeiro, que já tinha sido campeão estadual, ganharia também a Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro. E para ter tantas conquistas é preciso investir pesado, assim como aconteceu também com o Atlético nas temporadas 2013, quando conquistou a Libertadores, e 2014, a Copa do Brasil. Mas isso é o que aparece para o torcedor. Por trás, nos bastidores, o mundo do futebol se mostra cruel. Muito cruel.
Pois essa história se passa naquele ano de 2003. Um menino se destacava no Villa Nova, de Nova Lima. Pois esse menino chamou a atenção dos dirigentes dos três clubes da capital. Um dia, o pai desse menino, ao assistir um treino do time principal, foi chamado por um importante dirigente de clube grande, que chega cordial.
– Olá, como vai?
– Bem. E você?
– Bem, também. Fiquei sabendo que fulano, lá do Villa, é seu filho.
– Verdade.
– Precisamos conversar.
– Sobre o que?
– Seu filho. Sabe, bem que ele poderia vir para cá.
– Mas como?
– Simples. Ele vem, a gente cuida da transferência e fazemos um contrato, eu e você. Ele joga aqui, se destaca e depois gente a gente vende. A gente terá uma comissão. Eu fico com 80%, e você com 20%. O que acha?
– Quer dizer, então, que o filho é meu, mas você passa a ser dono de 80% dele!
Ora, isso é negócio e todo mundo ganha.
O pai sai puto desse treino. Revoltado, chega em casa e conta para o filho, que também fica revoltado.
A consequência foi que o menino não saiu de Nova Lima. Depois fez vestibular, passou, largou o futebol de vez. Seu esporte, hoje, é outro. Prefere o Rúgbi e o Futebol Americano.
É assim que funciona.
Esportes
Ivan Drummond
Jornalista, cronista esportivo e cobriu as sete últimas edições dos jogos olímpicos